segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

2017: breves considerações do começo do recomeço!


Aquela febre e aquelas dores dos primeiros dias do ano anunciavam o tom e a sensibilidade daquilo que seria o meu futuro próximo. As demandas da vida me causavam pavor, meu corpo pedia um socorro para o espírito. 

Nem a labuta, nem as luzes da cidade, nem as escolhas coletivas nas urnas, nem as paredes escritas do meu quarto, nem a companhia absolutamente desejada puderam proteger o meu coração que pulsava e me expulsava da minha própria vida.

As transformações começaram a partir de uma rudimentariedade gritante. Gritos cheios de raiva invocaram os primeiros espíritos de liberdade que mais tarde seriam minha melhor companhia. Caminhões de mudança também foram cúmplices literais do meu novo começo. 

O isolamento relativo foi o primeiro passo para aquietar a alma. O cessar dos ruídos comuns que faziam dos meus dias ciclos sempre iguais, aconteceu. A voz poderosa que se expressa no silêncio demorou, mas veio. Não veio de uma vez como contam as fantasias... precisei de algum tempo para entender seu dialeto, decifrar sua mensagem. 

Permiti-me a perda de tudo para me trazer de volta. Disciplinei os vícios mais óbvios. Sem conciliações, sem  projetos de transições, sem meias felicidades. Não negociei com meu ego. E quando perdi o medo da dor, deixei doer... a dor desapareceu. 

É fato que pouca gente podia ver o mundo com os meus olhos... perdi pessoas no caminho que estruturavam sua relação comigo pelas autoprojeções que faziam naquilo que eu outrora representava. Mas também ganhei novas almas sedentas por liberdade, gente capaz de dar passos no escuro para descobrir o que vem depois de nossos abismos individuais.

Aos poucos, entre uma demanda e outra do corpo, alimentei a alma. Minha esperança despedaçada foi sendo reconstruída. Uma ligação, um convite, um encontro, os espelhos, os tiros pela culatra, os nãos que me jogavam para cima. Ah, e a solidão... 

Eu nunca quis a solidão, mas ela me ama! Me ama mesmo, cuida de mim. Talvez tudo tivesse sido possível em companhia. Mas companhias, principalmente as boas, são zonas de conforto. Eu teria negociado valores se estivesse em uma zona de conforto considerável. Teria preservado a estrutura com metade da essência de pé... mas a solidão não me deu margem.

E teve a tristeza. Ela caminhou ao meu lado sempre... até que eu encontrasse um meio de entendê-la e de me reconciliar com ela. A vilania nunca foi realmente dela... antes achei que fosse. Com o tempo fui descobrindo que ela era mensageira da minha alma. Hoje quando ela aparece, sei que é para me dizer alguma coisa, imprimir mudança, renovar a esperança.

Poderia falar aqui de outros tantos sentimentos... poderia detalhar os fatos... poderia dar um nome a cada mês, a cada dia que vivi neste ano. Mas vou me ater as sensações mais forte, mais absolutas. E por falar em absoluto... fiz bons diálogos com a morte. E foi depois deles, quando admiti tal possibilidade, objetivei os últimos ritos, dei meus últimos gritos, foi quando uma poesia me invadiu a vida, me invadiu de vida.

Os medos também tiveram seu palco e não foram poucos, as alegrias, os desejos, as descobertas, a autoresposabilidade, o desespero, o perdão... acho que cada ponto deste mereceria seu próprio texto, a explicação de seu contexto. A fruição da arte... as peças de teatro que foram o palco para voz do Eterno, as canções que embalaram as angústias e iluminaram as soluções... a arte foi substrato para fé!

Dia após dia... cada dia uma energia diferente, uma nova missão. E podia e posso ver lá na frente, mas no entanto, não sou capaz de enxergar um palmo diante do nariz. Mas espera... há ainda sentimentos que não podem ser ignorados aqui. Vamos falar de amor.

O amor, tudo isso é sobre o amor. O amor pela vida que me impulsionou a não gastá-la de qualquer maneira. O amor próprio, o amor ao próximo... isso tudo estava lá, está aqui, pulsando. E tem também o amor por alguém. 

Um amor de encontros e sobretudo de desencontros... um amor de encontros desencontrados! Gostaria de ter sido eu, eu inteira, eu de verdade naquela, ao menos por enquanto, última noite. Mas a luz deixa certos lugares de sombras... e por mais que tenhamos vivido momentos de verdade, respirado o mesmo ar, sorrido os mesmos sorrisos, compartilhado as taças e os corpos... nunca saberei ao certo o que se passa quando as experiências não são aquelas vividas na minha própria pele. Desisti de superestimar meu conhecimento quanto ao outro... o que me trouxe paz e me fez amá-lo mais ainda. No amor não se pode convencer... somos apenas espectadores de um filme que protagonizamos, e o que é dor, é também poesia.

Por fim, a gratidão! Não há explicação para estar viva, não há o que realmente explique porque somos quem somos. Tento imaginar a vida, no tempo, como cada dia sendo uma peça de um quebra-cabeças que encontramos de nós mesmos. E o desafio é montar inteiro... uma expansão que não pode dar errado. Todos os dias penso sobre qual peça encontrei... durmo feliz, posso me confundir nos encaixes, mas nunca deixo de achar uma peça. Que linda é a vida... inúmeros desafios, que lindo ano esse. Eu quero mais!









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