segunda-feira, 24 de abril de 2017

Heranças transcedentais


Minha avó se chamava Eulália, morreu em 2011, aos 80 anos. Ela teve uma vida pulsante. Com olhos verdes e grandes, uma risada expansiva, unhas vermelhas enormes, costumava agregar muita gente a sua volta. Tinha um pensamento sagaz e uma elegância invejável. Faz seis anos que ela se foi e sinto a sua falta sempre... as vezes escuto sua risada e sua voz vivas como nunca em meus pensamentos e lembranças.

Ela tinha amigas pelo país a fora, sempre ouvimos falar de muitas delas, de São Paulo, Minas Gerais, Curitiba... laços profundos, pessoas que a visitavam e ela visitava sempre. Mas havia uma com status especial, que morava mais perto, sobrinha de seu primeiro marido e pai de seus filhos, o Pedro, no caso, meu avô. Essa amiga, se chamava Arminda.

Cresci ouvindo a vó Eulália fazer elogios a sua grande amiga Arminda. Indo visitá-la, falando com ela ao telefone. Coincidência ou não, Arminda sempre morou em Cianorte, 70 quilômetros de Maringá. Eu tinha a impressão de que a amiga era uma mulher forte e esplêndida tanto quanto minha avó Eulália... provavelmente eu tinha razão.

Acontece que neste ano, me mudei para Cianorte. Procurei a família que tenho aqui, mas que nunca antes tinha entrado em contato. Percebi nesta parte da família uma afinidade sem precedentes... e soube, que por mais que eu tenha resistido a me mudar de cidade, isso foi um privilégio do destino.

Entre os membros dessa família, conheci uma prima, neta da Arminda... Larissa. Desde o primeiro instante nos demos bem, ficamos amigas, como se tivéssemos crescido juntas. E mesmo com trajetórias diferentes, nosso diálogo fluiu numa profundidade que o tempo racional não explicaria. 

Volta e meia, eu e Larissa nos lembramos de nossas avós, contamos histórias de como elas eram fortes, empoderadas e exemplos de como aprendemos uma infinidade de coisas com elas. De alguma maneira que eu não sei explicar, sinto que essa amizade com minha prima é um presente de Eulália e Arminda para Amanda e Larissa. Um laço herdado e abençoado, uma amizade imediatamente eficaz porque vem privilegiada por uma construção prévia para muito além de nós. E além disso, talvez elas tivessem diálogos parecidos com os nossos, acompanhados de muito café e risadas escandalosas.

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