segunda-feira, 20 de março de 2017

Assuma a Responsabilidade


O mundo está cheio de mecanismos para que nós não nos sintamos aptos para realizarmos muitas coisas. Estamos mergulhados numa alienação fundamentalmente de nós mesmos. Não somos ensinados a entender nossos próprios mecanismos de funcionamento, em todas as dimensões de nossa vida.

 A medicina tradicional do Ocidente, por exemplo, de certa maneira nos alienou do corpo. Criou remédios capazes de simplesmente cortar sintomas, isso é, os avisos que o corpo dá ao cérebro para dizer que há alguma coisa errada. Quando temos uma dor de cabeça, ao invés de investigá-la, procurar entender sua causa, tomamos um analgésico e pronto, ela não existe mais. Mas ao mesmo tempo que o incomodo desapareceu, vai com ele nossa chave de entendimento sobre o que estaria acontecendo.

Assim como no exemplo acima, poderíamos elencar muitos outros... o preconceito e a falta de acesso a consultórios de psicologia; a quantidade infinita de estímulos externos que recebemos todos os dias, que acabam por nos distraírem de reflexões mais elaboradas; nossa incapacidade de realizarmos a manutenção no que tange necessidades cotidianas, como lavar roupa, cozinhar, limpar uma casa etc.

Atendi um caso típico hoje no trabalho em que a mulher dizia que moravam no mesmo terreno seis mulheres adultas e algumas crianças e que o marido de uma de suas filhas estava colocando em risco a vida de todas elas, e "sendo apenas mulheres, não tinham como se defender dele". Fizemos o procedimento para tirá-lo da casa. No entanto, discordo completamente quanto a afirmação que ela fez. Imaginem só, se seis pessoas do sexo feminino, não seriam capazes de enfrentar um cara sozinho. Tenho certeza que com um pouco de coragem, poderiam tê-lo expulsado de sua casa.

Ocorre que fomos ensinados a não assumir nossas próprias vidas. Nossa felicidade está sempre depositada em questões externas: "o amor verdadeiro que nos redimirá"; "os filhos que nos trarão completude"; "a profissão dos sonhos que um dia alcançarei"; "o Estado que não funciona e precisa cumprir seu papel" etc.

Não sou liberal, e não acredito que as pessoas sejam exclusiva e individualmente responsáveis pelo seu sucesso ou seu fracasso. Não é essa a tese que estou aqui defendendo. Acho que o Estado tem sim que cumprir seu papel e promover políticas públicas que facilitem a vida das pessoas. Mas o que tenho assistido na prática não é isso. Vejo gente infantilizada que não assume o mínimo de suas responsabilidades enquanto ser humano neste mundo. Inclusive a religião também fomenta tal mecanismo de imobilidade.

Não temos responsabilidade com nossa saúde, no cuidado da alimentação, na prática de exercícios físicos etc; não temos responsabilidade com a lutas sociais que nos dizem respeito, quase nunca nos envolvemos em questões políticas; não temos responsabilidade com nosso futuro tanto nas questões coletivas de sustentabilidade e preservação do meio ambiente, como também nas questões individuais e profissionais, deixando sempre a vida nos levar; não temos responsabilidade com nossa vida amorosa, sempre negociando valores por medo de ficarmos sós.

Tenho certeza que a maior parte das ocorrências policiais poderiam ser evitadas caso as pessoas tivessem consciência da importância de cumprirem seus papéis na sociedade. Caso utilizássemos o recurso interno que já temos. Caso conhecêssemos e articulássemos nossos próprios mecanismos já existentes. Mas a verdade é que estamos sempre a espera.

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