quarta-feira, 15 de março de 2017

A Sagrada Noção de Coletividade


O rabino Nilton Bonder, o qual já citei em vários textos aqui, em sua obra "O Sagrado", escreve sobre os segredos que os livros e teóricos da autoajuda relatam para se ter sucesso.

Segundo o autor a obra surgiu de seu espanto diante do sucesso de livros que oferecem um segredo capaz de mudar a vida das pessoas. Para ele, a busca incessante pela plena satisfação do desejo leva ao que ele chama de ‘religião dos indivíduos’, tão em voga na atualidade. Em nome da autorrealização, o homem se coloca no centro de um universo no qual ele é um sujeito especial, que merece consumir indiscriminadamente e acumular dádivas por suas conquistas.

Para Bonder, o verdadeiro segredo, camuflado pelos livros de autoajuda, é ter consciência dessas limitações; é questionar o desejo como fonte absoluta de bem-estar, ao invés de simplesmente tentar preenchê-lo. “Pensar que somos o centro do universo só nos fez intolerantes e ignorantes no passado”, afirma. “Esse é um engano trágico que mais cedo ou mais tarde levará à frustração e à descrença”.

Bonder denomina esta percepção quanto a um segredo por trás do segredo, de Sagrado. Que parte, na verdade, da inversão da lógica dos segredos postos. Pois, se os segredos difundidos levam a satisfação do ego e dos desejos, o sagrado parte de uma percepção em ser parte de um todo, da minimização dos infantilismos egóicos, de abrir mão do sentimento de ser o centro das atenções.

Disserta que "não somos um fim, somos um meio pelo qual se dá um projeto muito além de nossa biografia individual. E essa não é uma má notícia. Ser parte e não a integralidade nos aproxima da realidade e possibilita a experiência do sagrado – de ser especial não como algo isolado, independente, mas inserido na Árvore da Vida”

O que o autor chama de Sagrado, poderíamos chamar, sem riscos de sentido, de elemento humano ou humanização de nossa consciência, como seres coletivos. Acontece que o que ele propõe não é fácil e não é simples. Estamos acostumados com as receitas simplistas propostas pela sociedade.

No fundo, nossa racionalidade é de não envolvimento, de receitas fáceis, e fundamentalmente de individualismo. Queremos brilhar, ser o todo. E desejamos que as partes estejam a nosso serviço.

Portanto, o que Bonder chama de sagrado, é mesmo sagrado, mesmo que numa perspectiva apenas humanista. É a cultivação de valores para que o mundo seja um lugar melhor para se viver. Recomendo o livro.

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