quarta-feira, 8 de março de 2017

8 de Março e a Defesa Pessoal para Mulheres

                   


Em todo 8 de março, Dia Internacional da Mulher, milhões de pessoas escrevem ou se manifestam sobre este tema. Muitas mulheres, que há tempos lutam por suas causas, ganham um pouco mais de visibilidade. E cá estou eu, na mesma direção.
A vivência do que significa ser mulher é o tema principal da minha história... primeiro, por eu ser mulher, e segundo, porque trabalho com isso, sou policial civil de uma Delegacia da Mulher e todos os dias atendo casos de mulheres que foram agredidas, humilhadas e desrespeitadas em sua humanidade pelo simples fato de serem mulheres. Não passa um dia em que eu não ouça uma mulher chorar e lamentar sua condição de gênero, mesmo que ela não saiba o que isso signifique teoricamente. E, além disso, acabo de escrever uma dissertação de mestrado que também se refere a este tema, à luz do sociólogo francês Pierre Bourdieu e de sua obra importantíssima intitulada “A Dominação Masculina”. No entanto, de todas as minhas experiências pessoais, profissionais ou políticas, a que eu gostaria de trazer neste dia, não é nenhuma destas que acima descrevi. Há mais ou menos um ano, eu e mais algumas pessoas iniciamos um projeto de realizar Oficinas de Defesa Pessoal para Mulheres. A ideia surgiu porque eu percebi que muitos crimes poderiam ser evitados caso as mulheres soubessem se defender minimamente. No entanto, conforme passamos a colocar em prática tais oficinas, com públicos bastante diversos (mulheres jovens e mais idosas, mulheres hetero e homossexuais, mulheres inseridas nos movimentos sociais e as que nunca haviam participado de qualquer roda de debate sobre o tema), eu percebi que na vida de todas elas, conforme perguntávamos no início da Oficina, constavam relatos de medo. A vulnerabilidade que as mulheres sentem ao estarem sozinhas em qualquer ambiente público é concreta, é real. Não somente pelo desprivilégio físico, mas porque fomos culturalmente ensinadas a não reagir e convencidas de que somos fracas. Então, passamos a fazer uma abordagem ensinando alguns mecanismos, com o intuito de instrumentalizar as mulheres a saírem dessa posição de vítima. E, durante as sessões, os olhos delas brilhavam por se verem capazes de reagir, perceber seu ambiente e defender suas vidas e suas integridades físicas. Independente de qualquer orientação política ou ideológica, torna-se nítido que ao aprenderem que são capazes, de fato, as mulheres passaram a ser capazes. E no fim de todas as oficinas de Defesa Pessoal, os relatos foram de mudança interna. Por meio de um mecanismo prático, pudemos gerar reflexões empoderadoras, e cada uma dessas mulheres pôde enxergar um mundo mais seguro para si, a partir de si mesma e dos mecanismos já existentes em seus corpos e em sua identidade. De todas as coisas que tenho feito desde a adolescência a respeito da luta das mulheres, praticar e ensinar técnicas de defesa pessoal é a que eu mais gosto, pois tem um efeito imediato. Mas não quero aqui diminuir nenhuma iniciativa, o mundo só é “menos pior” para as mulheres por causa de cada instante de luta que travamos. E continuaremos sem parar. A todas as mulheres, incluindo a mim, é claro, neste 8 de março e sempre, desejo uma vida plena!!

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