quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Cafonice e as Redes Sociais

               

               Cafonice pode ser definida como a atitude ou o estado que faz com que algo seja brega, pedante, exagerado, provinciano, excessivamente egocêntrico ou inadequado ao espaço ou tempo em que se encontra. Na verdade, o que é cafona para alguns, pode não ser cafona para outros. Resumindo, cafonice é mais ou menos aquilo que nos causa uma certa vergonha alheia. 
         No entanto, antes da internet, as coisas ou atitudes cafonas eram mais escondidas, restritas a maneiras de se vestir ou se portar. Ou ainda, podíamos (e ainda podemos) encontrar a cafonice por excelência nos romances... porque gente apaixonada é cafona, falando igual criança, inventando apelidos ridículos e fazendo tempestade em copo d'agua por causa de qualquer coisa (e quem nunca, né?)... fora o ciúme, que não tem coisa mais cafona do que a pessoa ter sentimento de posse por um outro ser humano. 
                Um dos principais ícones da cafonice é o cantor Falcão com seu paletó xadrez e  girassol no bolso, distribuindo atitudes exageradas... no entanto, ele é bem caricato. Há quem considere Rei da Cafonice o inestimável Roberto Carlos... quem disse isso tem lá suas razões (apesar de eu ser fã dele, com cafonice e tudo... "esse cara sou eu...").
             Contudo, com a consolidação e popularização das redes sociais penso que houve uma proliferação desta característica entre todos nós... ou então todo mundo já era cafona e resolveu sair do armário. São muitos os exemplos. Podemos começar com o selfie... e como se já não bastasse isso, as pessoas resolvem publicar sua fotinho e "filosofar" em cima, citando assim, os mais variados tipos de frases de auto-ajuda, indo de Augusto Cury a versículos bíblicos.
                A verdade é que redes sociais são cafonas por excelência porque giram em torno de uma lógica egocêntrica e não verdadeira. A grande maioria das pessoas tutela sua rede de maneira a sempre parecer feliz, alegre e contente. E honestamente, ostentar felicidade o tempo todo está no top dez das coisas mais cafonas. Mas, outra coisa muito cafona das redes sociais são as demonstrações de sofrimento... gente que nunca gostou de poesia, citando Fernando Pessoa. Rubem Alves está entre os prediletos para o exercício da cafonice. Enfim, poderíamos dar mil exemplos.
                  Mas o fato é que todos nós, de um jeito ou outro, não resistimos a algum tipo de cafonice nas redes... uma citaçãozinha aqui, um selfizinho ali, um desabafo acolá acabamos por entrar na onda... porque no fundo não há nada mais humano do que ser cafona.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Maringá e as minhas esperanças para 2015

            
             No início da minha adolescência, há mais de uma década atrás, Maringá, a cidade em que moro, era um município culturalmente efervescente. Lembro-me da quantidade de shows, peças de teatros, concertos e exposições as quais eu costumava frequentar. 
              Contudo, pouco tempo depois, percebi um certo esfriamento na cidade. Os poucos produtores culturais que haviam por aqui foram desanimando, os melhores artistas plásticos passaram a fazer suas exposições em outras cidades maiores,  muita gente que contribuía com este aquecimento cultural se mudou e de repente já não havia mais nada. Nem shows, nem peças, nem exposições... as vezes  rolava um ou outro concerto ou apresentação de ballet clássico.
               E não por acaso, neste mesmo período de escassez cultural, cheguei a saber de alguns projetos de lei propostos por vereadores de bancadas religiosas que tratavam sobre toques de recolher a meia noite, mas que não chegaram a passar, mas que foram aplaudidos por muitos setores da cidade. 
               Então, o tempo passou, tivemos um longo e tenebroso inverno... a ponto de até as tradicionais festas de carnaval dos clubes serem canceladas por vários anos consecutivos. Neste tempo, Maringá continuou sendo uma bela cidade em termos de paisagem e organização, principalmente em sua área mais central. Eu diria que por um bom período, nossa cidade nos deu a impressão de ser do tipo linda, mas vazia de conteúdo. Assim, do jeitinho que a classe média cristã tradicional gosta... "tudo lindo, tudo em ordem... e sem muitos espaços públicos de uso coletivo para não ficar criando problema."
               Por sorte ou benção de Deus, nesta pior fase da cidade, foi o período em que eu estava na Universidade, que sem dúvida alguma, era e é um grande pólo de resistência à mediocridade cultural do município.
            No entanto, Maringá cresceu, e passou a atrair mais investimentos e mais gente de fora, pessoas que trouxeram consigo outras visões de mundo. As universidades também cresceram, a UEM incorporou cursos na área de arte em seu rol, novos grupos surgiram e até pastores e padres mais progressistas tornaram-se cidadãos maringaenses, e aos poucos vamos percebendo que a cidade volta a ter timidamente uma vida cultural, com uma iniciativa aqui e ali. Desejo muito que deixemos definitivamente de ser um grande sítio iluminado, a casa grande da senzala, e passemos finalmente a ser uma cidade pólo cultural. Esperanças para 2015.


terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Sobre Padrões Estéticos e coisas afins...

                   
                    Faz um tempinho que não faço as vezes da casa e dou as caras por aqui. Mas como estamos no início do ano, tempo de recomeços e resignificações resolvi voltar e exercer umas das minhas mais pretensiosas e prediletas atividades: escrever. Portanto, vamos ao tema (risos).
                 Desde alguns meses atrás quando mulheres no facebook começaram a postar fotografias chamadas "sem filtro e sem maquiagem" juntamente com os desafios para outras mulheres, tenho refletido sobre o tema beleza e estética e cheguei algumas conclusões um tanto intrigantes.
                      Quem me conhece sabe que nunca tive problemas de auto-estima e nem de má aceitação da minha imagem... muito ao contrário e não por acaso. Contudo, quando percebi este movimento de mulheres que precisam ser desafiadas para assumir sua própria imagem de maneira autêntica, fiquei um tanto incomodada. Porque um movimento feminino nunca é exclusivo deste gênero, é sempre um movimento geral do que as pessoas acreditam ser o padrão. 
               Portanto, se pensarmos na lógica de que aparecer de "cara lavada", é um evento, um acontecimento sem precedentes... significa então que diariamente as pessoas tentam sustentar uma imagem que não condiz exatamente com o que são. Além de eu achar isso tosco, hipócrita e falso, também considero muito triste.
                   Depois desse fato ocorrido nas redes sociais, pude observar que o cotidiano das pessoas tem sido assim... tenho amigas que caso esqueçam seus estojos de maquiagem numa viagem, são capazes de voltar pra buscar... mulheres que não admitem que alguém poste fotos delas de maneira espontânea sem prévio tratamento. Conheço pessoas que se endividam para garantir um guarda-roupas de acordo com um padrão de moda que sabe-se lá Deus quem criou. Conheço meninas que colocam cabelo falso porque não aceitam o seu próprio e sofrem com isso.
               É claro que não estou aqui a criticar cuidados consigo mesma, nem uma parcela equilibrada de sendo estético e vaidade... mas sim para questionar uma escravidão imposta às mulheres e pelas mulheres a si mesmas também. Pergunto onde foi parar nosso senso de leveza e felicidade. Questiono a qualidade de vida dessas meninas doentes para alcançar o pseudo-padrão de beleza. Pergunto onde está nossa admiração pela auto-imagem que carrega nossa própria história. 
              Honestamente não acredito em beleza sem autenticidade, nem creio que pessoas que não tem coragem de assumir sua própria imagem se sintam realmente belas. Porque, vão por mim garotas, o sentir-se bonita não está necessariamente ligado ao ser bonita frente aos padrões midiáticos. Tem muito mais a ver com a auto-estima e o quanto fomos amadas e encorajadas para vida desde criança por aqueles que deveriam ter feito isso. Somos o que somos, e beleza é conjunto infinito de elementos que um ser humano em sua plenitude pode demonstar... equilíbrio, alegria, inteligência, fé, imagem...entre tantos outros. E caso você leitor que não me conhece ache que isso é papo de gente feia... de antemão aviso... realmente não é o caso.
            Conheço pessoas lindas (no que tange aos padrões estéticos), homens e mulheres, mas que são infelizes, vazios e com auto-estimas quase inexistentes, possuindo atitudes de autos-sabotagem e auto-desvalorização constantes... gente que inicia seus relacionamentos com ansiedade e baseados em desamores ou mentiras.
                  E por último, eu diria que caso o desafio pudesse ser feito por mim, numa resignificação para o novo ano que começa, eu desafiaria as pessoas, e principalmente as mulheres, a se amarem mais  e assumirem uma postura mais autêntica e feliz... porque quem tem recurso interno de verdade, quem tem alma interessante e complexa, pode até se aproximar por um senso estético de atração, mas só permanece perto e junto de quem tem muito mais a oferecer.