quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Consciência


Seus vícios banais não eram nada comparados ao seu vício fundamental. A ideia de que os fatos deveriam ter sentido era fixa, pulsante, natural. A vida, por vezes lhe parecia um grande plano de conspiração, realizada por um maestro com humores variados e inconstantes. Estranho, estranha, ela se sentia... lembrava-se de uma infinidade de acontecimentos loucos em sua vida. Momentos que lhe encontraram de forma pretensiosa... disfarçados de acaso... Tantas coisas. Encaixes propositais. O pensamento de uma vida conspirada, por mais louco que fosse, era-lhe também um esquisito lugar de segurança. Intrigantemente, isso explicava tudo... fatos complexos... um segredo do segredo que por mais que outros soubessem, só ela sabia da maneira que sabia. Ah... um vício... ou talvez a exatidão de sua maior virtude. Talvez. Mas sentia-se tentada a contradizer-se... a pensar diferente... aceitar que tudo fora um grande delírio, que a sua manifestação de vida era apenas mais uma... um acidente material... por vezes desejava isso a partir de todas as suas energias... um sentimento de normalidade, uma convicção simplória, na qual não existissem nem complexidades racionais e quanto menos sensações metafísicas. Mas desistia, retornava para sua essência... fosse como fosse, vício ou virtude, não podia aceitar a ideia de que uma consciência tão inquieta, tivesse uma existência ínfima... fugaz. 

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