segunda-feira, 22 de setembro de 2014

A Importância do Estado Laico para o Cristianismo e a Importância de Dilma para o Estado Brasileiro



O Brasil chegou longe, se tornou uma das maiores economias do mundo, fortaleceu sua democracia, lutou contra a ditadura militar que amordaçava e torturava aqueles que tinham sede de liberdade. Artistas, militantes, cristãos, camponeses, estudantes levantaram-se para lutar por aquilo que conquistamos hoje, um Brasil diferente, com oportunidades, com menos discrepâncias sociais, com uma democracia. Tantos debates políticos foram feitos, elaboramos uma Constituição cidadã, discutimos projetos de país, a importância dos programas de governos, formulamos leis de responsabilidade fiscal, incluímos a alimentação como um direito social garantido pela Constituição, e retiramos o Brasil da lista da ONU de países que tem fome. Aprovamos estatutos para garantir os direitos de crianças e adolescentes, o direito de idosos, leis para proteger as mulheres da violência doméstica, construímos universidades como há tanto tempo não se fazia e escolas técnicas em todo canto do país. Avançamos muito no debate de idéias que colocaram o ser humano como centro, fortalecendo assim um Estado Democrático Social de Direito, um Estado laico, que não vise apenas garantir a igualdade, mas que respeite as diferenças. Enfim, o tempo correu desde a idade média, quando Igreja e Estado eram conceitos quase sinônimos, o mundo evoluiu, e aqueles que desejam exercer sua fé independente do que pensa a maioria, possuem seus direitos garantidos mesmo assim. A aprovação da lei do divórcio no Brasil foi um ponto muito debatido, pois a igreja Cristã era contra que o Estado acompanhasse aquilo que já ocorria na prática, pessoas se casavam e se separavam, e casavam-se novamente na prática, mas não tinham como regularizar sua situação judicialmente, pois o Estado não permitia o divórcio, e quem mais sofria com isso, sem dúvida eram as mulheres que se tornavam estigmatizadas e eram discriminadas devido a sua condição de “separada”. No entanto, com a aprovação da lei do divórcio, aqueles que acreditavam, devido a sua fé, que o casamento deveria ser um sacramento e em hipótese alguma deveria ser desfeito, estes continuaram casados, independente de o Estado permitir ou não a dissolução do casamento. Porém, muitos que viviam infelizes, cheios de culpa, puderam regularizar sua situação perante a lei, pedindo divórcio e casando-se novamente. Por isso, percebemos que Estado avançou, cada vez mais pôde respeitar as diferentes faces dos seus cidadãos, personalidades, gostos, convicções e posturas.
Diante de tudo isso, me indigna muito o que ocorre no Brasil, tenho visto em redes sociais pessoas dizendo que cristão deve votar em candidato cristão. Pessoas que ao invés de trazerem a tona o investimento no ser humano como centro de seu debate, projetos políticos, políticas públicas, reformas, investimentos, saúde, educação, segurança, alimentação, ciência e tecnologia, comunicação, inclusão digital, não, trazem para o centro do debate os moralismos, as intolerâncias, as picuinhas, as invejas, as hipocrisias, os fundamentalismos. Admira-me muito e negativamente, cristãos que torcem para que Estado e a religião voltem a ser uma única coisa. Que tentam impor a todos aquilo que é motivação de fé, que ao invés de terem a tolerância e o amor como centro de suas vidas, montam uma seqüência de regras religiosas a serem seguidas absolutamente cheias de rituais e vazias de sentido. A história prova que o Estado religioso cristão na idade média foi algo desastroso. O tribunal da Inquisição instituído principalmente na Europa nos séculos XVI, XVII e XVIII, afirmam alguns historiadores, chegaram a matar mais de nove milhões de pessoas. A principal prova usada nos processos judiciais da Inquisição era confissão e obviamente que tais confissões eram obtidas através dos mais diversos tipos de tortura (cenário parecido, diga-se de passagem, com a ditadura militar enfrenta pela nossa presidenta em sua juventude). O ápice da confusão entre Estado e religião foi o período Inquisitorial e foi algo absolutamente desastroso, pois com o avanço do fundamentalismo, qualquer ação que contrariasse aqueles que estavam no poder era considerado heresia e deveria ser gravemente punido.
Então, diante disso, me assusta que cristãos, depois de verem o caos que fora a Igreja no domínio do poder, depois de presenciarem tantos avanços promovidos por um Estado laico, possam querer que suas regras sejam as regras gerais. Fato absurdo diante da fé cristã genuína. Pois, a Bíblia diz que Deus é amor, portanto o cristianismo praticado deveria ser justamente isso, atos de amor. E sinceramente, quando a igreja defende que milhares de mulheres continuem morrendo ao praticarem abortos clandestinos, sem assistência médica alguma, e ainda sentirem-se criminosas diante de um ordenamento jurídico completamente ultrapassado, não creio que isso seja um ato de amor. Todos nós conhecemos ou acompanhamos alguém que já tenha feito um aborto na vida, um processo marcado por sangue, lágrimas, baixa auto-estima, marcado pela dor, mulheres que se viram incapazes de levar em frente uma gravidez, muitas vezes por falta de condições financeiras, mas quase sempre pelo moralismo imposto pela sociedade. Muitas vezes, pais cristãos que são tão moralistas com seu código de conduta contra uma gravidez fora do casamento, é que levam suas filhas a opção de abortar por medo de serem julgadas por eles, é o moralismo que, no geral, cria o ato de abortar. Este código de ética pseudo-cristão não é um ato de amor! E muito menos querer que o Estado acompanhe tal comportamento é uma atitude que exalte a vida. Outra questão muito discutida pelos fundamentalistas/neopentecostais nestas eleições é a questão do homossexual. A questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo passa pelo reconhecimento do Estado quanto aquilo que já existia na prática. Dentro de uma união gay, se um dos dois morre, tudo que eles construíram juntos o outro não herdava, pois esta união não era reconhecida pelo Estado para efeitos de direito civil. O fato de lutarmos para o Estado descriminalizar o aborto e a legalização já feita do casamento homossexual não significa que haverá uma fábrica de gays e garotas na fila para fazer aborto. Meninos e meninas cristãs poderão continuar casando-se da maneira que quiserem dentro de suas igrejas, um de terno a outra de vestido branco, as famílias poderão continuar comemorando o nascimento de seus filhos e filhas na vigência do casamento heterossexual. A permissão de algo pela lei, não significa a imposição, quando aprovaram o divórcio como direito, não impuseram a ninguém a obrigação de se divorciar, assim como a legalização do aborto não condena ninguém a abortar ou a legalização do casamento homossexual não transforma ninguém em gay. Mas, à medida que o Estado avança em sua condição laica, que passa a cada dia mais ter a tolerância e o respeito às diferenças como centro de sua ação e debate, aí sim, passa a ser cada dia mais cristão, cristão no seu melhor sentido, cristão porque cumprirá então os ensinamentos de Cristo que nos ensina a tolerância e nos diz que devemos amar uns aos outros.
Por isso, para que o Estado brasileiro continue seguindo em frente, avançando em sua condição laica, continue tendo como prioridade máxima o respeito a vida humana de maneira integral, vote naquela que já provou respeitar o Estado laico e diversidade de pensamentos e crenças dos brasileiros e brasileiras, vote em quem ao invés de se preocupar em sustentar suas teses fundamentalistas, preocupou-se com a saúde do povo e trouxe médicos para os lugares mais improváveis. Vote nesta mulher de coração valente que tem enfrentado os problemas do Brasil de cara limpa e combatido a corrupção sem ter medo de nada. Vote em quem amo o Brasil e sua juventude, proporcionando oportunidades de emprego e profissionalização a jovens que antes não tinham perspectivas. Nesta eleição defenda propostas, discuta idéias, eleve o debate político ao lugar em que ele deve estar, apresente propostas que incrementem as políticas públicas para o Brasil. Abra mão do seu mimimi pseudo-cristão, abra seus olhos para o que Deus e aqueles que o servem verdadeiramente, na prática,, tem feito por esta Nação. Combatendo a fome, como Cristo nos ordenou. Respeite o Estado laico para que possamos exercer a nossa fé com liberdade, e sermos usamos pelo Espirito Santo de Deus, segundo a Sua vontade, para levarmos o evangelho do amor a frente. Não se engane com os falsos discursos. Não sejamos fariseus. Votemos em DILMA para presidente, para seguirmos em frente.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Presságio


Entre um imponderável e outro, constatava uma vida irreal. No intervalo, de um tempo inexorável e outro, estava uma rotina desleal. Enquanto isso, volta e meia, aparecia-lhe um presságio estanho, capaz de um confundir tamanho... num compasso surreal. Suas perguntas já não eram as mesmas, porque suas paixões de então haviam ido para algum lugar desconhecido. Observava a obviedade de seus ex-amores, manifestas na realidade ou na vida virtual, tudo lhe parecia normal... demasiadamente normal. Círculos viciosos, equívocos virtuosos. Não os julgava, nem a eles e nem a outros receptores de suas paixões de outrora. Apenas não havia em sua alma mobilização alguma em função destes. Uma sensação nova. Um intrigante sentimento. Não era vazio. Também tampouco era egoísmo. Seu espírito coletivo, seu ímpeto comunitário, constavam intactos em seu espírito. O que mudara talvez fosse a complexidade de seus interesses, a fruição do outro em sua alma já não era. Mas talvez voltasse a ser uma hora dessas... talvez de tão complexa, agora necessitaria ser simples, clara... calma.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Consciência


Seus vícios banais não eram nada comparados ao seu vício fundamental. A ideia de que os fatos deveriam ter sentido era fixa, pulsante, natural. A vida, por vezes lhe parecia um grande plano de conspiração, realizada por um maestro com humores variados e inconstantes. Estranho, estranha, ela se sentia... lembrava-se de uma infinidade de acontecimentos loucos em sua vida. Momentos que lhe encontraram de forma pretensiosa... disfarçados de acaso... Tantas coisas. Encaixes propositais. O pensamento de uma vida conspirada, por mais louco que fosse, era-lhe também um esquisito lugar de segurança. Intrigantemente, isso explicava tudo... fatos complexos... um segredo do segredo que por mais que outros soubessem, só ela sabia da maneira que sabia. Ah... um vício... ou talvez a exatidão de sua maior virtude. Talvez. Mas sentia-se tentada a contradizer-se... a pensar diferente... aceitar que tudo fora um grande delírio, que a sua manifestação de vida era apenas mais uma... um acidente material... por vezes desejava isso a partir de todas as suas energias... um sentimento de normalidade, uma convicção simplória, na qual não existissem nem complexidades racionais e quanto menos sensações metafísicas. Mas desistia, retornava para sua essência... fosse como fosse, vício ou virtude, não podia aceitar a ideia de que uma consciência tão inquieta, tivesse uma existência ínfima... fugaz. 

terça-feira, 2 de setembro de 2014

ÃO...


Tem alguma coisa errada,
Está faltando razão.
Pois é estranho quando,
Para a minha geração,
As palavras de Rui,
Fazem menos sentido 
Do que as de Clarice Falcão. 


sexta-feira, 27 de junho de 2014

Identidade x Comunidade


A política acaba nos impondo uma dinâmica muito intensa de relacionamentos. Temos que escutar as pessoas o tempo todo e de certa maneira nos abrirmos também. É necessário que misturemos nossa energia com a energia do outro. E não é possível construir isso sem que sejamos verdadeiros, inteiros. E no geral acho isso uma grande benção... um presente. Porque quanto mais isso acontece, mais vamos evoluindo, nos tornando pessoas mais complexas e sensíveis para com a diversidade das manifestações humanas. Contudo, há momentos em que precisamos nos preservar, descansar deste processo para fazer a digestão disso. É necessário que nos encontremos com os outros sem que nos percamos da nossa essência. Trazer pra dentro de nós energias e elaborações alheias é muito bom, mas exige cuidado, cautela com a nossa identidade e com as nossas escolhas. Ser comunidade sim, mas sem deixar de ser indivíduo. Encontro meu descanso em Deus - Pai, Filho e Espírito. Esse Deus que nos ensina a ser comunidade, mas também nos proporciona identidade, se relacionando conosco de maneira individual e coletiva. Somos a imagem e semelhança Dele, que é uno e trino ao mesmo tempo. Uma comunidade perfeitamente integrada, na qual "as pessoas" que fazem parte dela tem características próprias, cumprem papéis diferentes na história, mas estão verdadeiramente ligadas, a ponto de serem um só. É neste Deus que encontro a fonte da vida, da elaboração, da formulação, do perdão, da misericórdia, do descanso. Hoje estou exausta... nesta semana não poupei esforços ao percorrer o caminho da consolidação da minha identidade e também na construção coletiva da comunidade a qual faço parte. Mas estou feliz, porque sei exatamente onde e em quem posso encontrar a renovação das minhas forças.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Dheison Renan


Há pessoas que são mesmo diferentes. Que oferecem ao mundo algo mais. Pessoas que são capazes de viver plenamente integradas em comunidade, e quanto mais se relacionam, mais fortes ficam. Sabem quem são, e percebem que quanto mais doam de si, mais acrescentam para si. Tem gente que não tem medo de responsabilidade. Gente rara neste mundo, que apesar de jovem, não tem receio de ser adulto, não fica tentando inutilmente, como a maioria faz, prorrogar a adolescência... assume a vida e assume quem é. Gente que não faz mimimi, mas que também não desrespeita os sentimentos alheios. Pessoas que sabem que não são perfeitas, sabem de suas limitações... que não negam suas dificuldades. Gente disponível. Disposta a servir. Conheço um exemplar desses. Meu amigo Dheison.... uma das melhores pessoas que conheço. Que hoje passa por mais uma cirurgia. Peço a Deus que te dê forças meu caro, a você e a sua família. E que sua recuperação seja o mais breve quanto possível for, para que possamos desfrutar novamente da sua companhia e da sua força de vida, que fortalece a todos nós.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Foram Muitos Dias... ao que Parece...


E os dias que um dia eu desejei 
Que parecessem menos,
Com todas as forças que eu tinha,
Não é mais o que tenho.
Agora são muitos, 
Muitos dias que fizeram com que tudo
Parecesse Menos.
Enquanto o planeta girou por completo 
Em torno do sol,
A pureza tornou-se indiferença,
A verdade, distância.
A afinidade invertida, diferença. 
E enquanto isso me sinto estranha, 
E meu coração pede licença e diz 
Hoje, apesar dos pesares e da solidão,
Desde então 
Sou mais feliz.


quarta-feira, 28 de maio de 2014

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Devolveste


Devolveste tudo a mim.
Devolveste o que eu não tinha,
Alguma coisa de fora 
Que sempre e nunca fora minha.
E não assim exatamente.
Mas com calma e fundo,
Me deste um contentamento profundo,
E verdadeiramente,
Descobri dentro de mim
Um novo mundo,
Que transcende até mesmo
A circunstância descontente.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Crônicas de Delegacia V: Era uma vez Maria... um relato sobre a violência doméstica


Era uma vez Maria... Maria tinha doze anos e morava no sítio, tinha três irmãos mais novos do que ela. Sua mãe estava no segundo casamento, era alcoólatra. Em uma noite comum, o padrasto de Maria foi até seu quarto e abusou dela. Ela não tinha defesa e sua mãe, que também sofrera a vida toda, não pode protegê-la, e não quis. Na sua ausência de recurso interno, percebeu o fato, que aos poucos fora se tornando uma constante, e foi embora de casa, deixando para Maria criar seus três irmãos. O padrasto, que abusou de Maria, tomou Maria como sua mulher no lugar de sua mãe. Ela foi crescendo neste ambiente, violentada todos os dias, não só pelo padrasto, que agora era seu "marido", mas pela vida. Maria teve três filhos com esse homem. Cuidou da casa, dos três irmãos, dos três filhos, começou a trabalhar de doméstica para sustentar a casa. O "padrasto-marido" a agrediu a vida toda, agrediu seus filhos. Maria depois de três décadas sofrendo tudo isso, resolveu procurar ajuda, porque o homem, mesmo aos 75 anos, ainda a ameaça e a agride. Esse é um pouco do retrato do que acontece em milhares de famílias brasileiras. Esse é mais um relato que diz sobre a nossa triste realidade, a realidade de uma sociedade machista, patriarcal que naturalizou a violência contra à mulher. Há muita luta pela frente e o silêncio não faz parte dela. De um jeito ou de outro, guardadas diferentes proporções, somos todas como Maria. Mas é preciso aprender a dizer Não.

domingo, 16 de março de 2014

Abrigos


Se não bastassem os pulsos,
Controlaria teus impulsos?
Se não dividíssemos tantos espaços,
Menosprezaria, você, os meus passos?
Se te sobrassem sentidos,
Menos sofridos e mais amados,
Nos teus pretéritos próximos
e passados.
Sim, haveria abrigos.
Mais doces, menos falados.
Amigos? Sei lá!
Olhares daqui, Olhares dali,
Olhares de lá... o que há?




sexta-feira, 14 de março de 2014

Hitler do Cotidiano


Conheci pessoas que tem ou tiveram sua liberdade muito restrita, através da prisão. E no diálogo percebi o quanto isso representava uma grande dor em suas vidas. E o quanto a liberdade de ir e vir é preciosa para o ser humano, e que ninguém deseja encontrar-se numa situação como esta. No entanto, todos os que estão objetivamente presos, terão finitas a sua prisão um dia. Seja em vida, seja na morte, um dia, sabem, que aquilo passará.
Contudo, conheci e conheço pessoas que tem suas almas aprisionadas em seus próprios egos absolutos. Gente que vive à merce das circunstâncias, com necessidade constante de auto-afirmação, incapazes de estabelecer vínculos ou de exercer generosidade, com mágoas profundas, com incapacidade de perdão. 
Conheço pessoas aprisionadas em suas próprias misérias, que restringem seu mundo a ambientes mesquinhos e jogam tudo de si na construção de coisas vãs. Conheço pessoas que acreditam no poder como forma de construção de sua identidade, que apostam que ao serem temidos serão melhores. 
Conheço pequenos "Hitleres do cotidiano". Pequenas autoridades ridículas e imbecís, destas que ao vê-las temos vontade de ser Charlie Chaplin. Pessoas que tem a certeza de que "os presos" são os outros. Mas se enganam.
Sim, os presos estão presos, mas cedo ou tarde, serão libertos. E ainda assim, mesmo no cárcere podem ter experiências libertadoras. Mas aqueles, mergulhados na mediocridade de seus egos absolutos podem nunca conhecer a liberdade de ser coletivo, de ser vínculo, de ser luz, de ser generosidade, de ser vida, de ser amor, de ser leveza, ser sorriso fácil, de ser paz... no fim das contas, tenho mais pena destes "Hitleres do cotidiano", que torturam e tem uma consciência estúpida de que são poderosos, mas aprisionam suas almas num inferno trancado por dentro, do que daqueles envoltos em grades de ferro.

terça-feira, 11 de março de 2014

Crônicas da política cotidiana I: Sobre o que é política...


Política é vínculo coletivo. É gente capaz de estabelecer relações de confiança. É síntese da ligação entre pessoas que se permitem sonhar juntas. Arrisco até dizer, que poucas relações são mais íntimas do que a relação política profunda e real entre dois ou mais indivíduos. Compartilhar utopias é algo extremamente particular, íntimo... porque no compartilhar de nossos sonhos por uma sociedade diferente, sonhos estes, nos quais quase sempre nos enxergamos como protagonistas  das transformações... realizamos o ato de despir a alma, despir nossa loucura positiva mais escondida, que diz sobre como vemos o mundo e como enxergamos a nós mesmos. Fato muito mais íntimo e raro, diga-se de passagem, do que o ato simples de despir os corpos. Isso é tão verdade, que volta e meia adversários políticos de longa data, no fim da vida, acabam se tornando grandes amigos... porque apesar de terem divergências, compartilharam sonhos de transformação da realidade. Política se faz na construção de relações saudáveis entre pessoas, que movidas por um mesmo projeto ou ideal, unem-se e o constroem. Ou mesmo se opõem, também no ato de construir os sonhos. O líder, ou os líderes políticos de verdade, capazes de marcar a história positivamente, são aqueles que primeiro se levantam, e que seguem de pé. Aqueles que são capazes de ter independência e autonomia para criar, e criam a partir de um conhecimento da realidade, capazes de traduzir em seus discursos e ações o que era abstrato nos corações da coletividade. E ainda, são os que tem energia e coragem para sustentar a construção do projeto coletivo em meio as dificuldades encontradas. Líderes são pessoas apaixonadas por processos evolutivos. Gente que não gosta de zona de conforto. Que carrega consigo uma inquietação constante e uma coragem de ouvi-la. Para que um grupo político dê certo é necessário isso. Antes de qualquer coisa, vínculo, relação profunda, capacidade de confiar no outro, sonho em comum e líderes. Gente não adaptada ao sistema, cheia de coragem para agir e capacidade de pensar e sentir quanto ao que precisa ser mudado. Política é também muitas outras coisas. Teóricos se referem a ela com mil e outras definições. Contudo, na prática, qualquer tentativa de realização política que não inclua vínculos entre pessoas, relações, sonho em comum e liderança, é usurpação.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Seus olhos


Seus olhos eram simples, diretos. E por isso mesmo é que eram demasiadamente complexos. Firmes, retos! Sim, havia uma força incomum naquele olhar. Todo o resto de suas ações partiam dali. A totalidade de sua face orbitava em volta daquele núcleo paradoxal. Lábios, nariz, sobrancelhas, linhas de expressões, marcas eram coadjuvantes perfeitos, componentes submissos daquela força nuclear. Seu corpo era diretamente proporcional aos seus olhos. Ambos, intrigantemente admiráveis. Mas o que havia de diferente? Uma vez alguém pensara..."não há vazios neles." Mas como não há vazios? Era possível vez por outra encontrar ali uma tristeza, uma consciência plena de que a vida vinha embutida de dor. Uma noção de que neste mundo há desamor. Sim. Mas isso não era ausência. Era apenas a consciência, o enxergar, que tudo o que há nesta vida é pequeno, efêmero e há de passar.

terça-feira, 4 de março de 2014

Contradição


Um dia penso na humanidade,
Outro dia tenho que fazer revistas.
Em um momento penso
Na transformação da realidade,
Em outro, faço o B.O. da perda de reservistas.
Em um instante sou juventude,
Na manhã seguinte, sou polícia.
Numa noite vou pra folia pular o carnaval,
Na outra, sou plantonista.
Num dia sou alegria, sou festival,
No outro, melancolia.
No domingo participo da eternidade,
Na segunda, da revelia.
Num determinado momento sou central,
Em outros tantos, periferia.
E se hoje falo e vivo de socialismo,
Amanhã, sem desejar, participo da mais-valia.
E em um dia exponho e construo o pensamento,
No outro, a hipocrisia.
Em uma hora sou futuro, sou paixão,
Na hora seguinte, anacronia. 
Em uma vida sou opressão,
Na outra sou rebeldia.






domingo, 23 de fevereiro de 2014

Equivocados


Os melhores momentos da nossa história, acontecem sem que a gente espere por eles ou os queira desesperadamente. Provavelmente todas as pessoas já viveram isso, nas duas faces do que essa afirmação representa. Já tentaram com todas as suas forças ter algo e mesmo com todo esforço do mundo não puderam. Ou então, estavam distraídos, sem procurar por nada e de repente puderam ter algo maravilhoso, porque de alguma forma estavam prontos para receber aquilo que era bom, sem nenhum sofrimento ou esforço.
Isso vale para diversas áreas da vida... no amor, no trabalho, nas amizades, nas finanças, numa balada que parecia que não ia ser nada e acaba sendo super divertida. A vida é assim, quase sempre inversamente proporcional aos nossos desejos.
Quando nos tocamos dessa lógica que rege as "energias do Universo", muita coisa passa a ser mais fácil em nossas vidas. Quanto menos expectativas, menos quereres desleais nessa vida, mais podemos ser surpreendidos positivamente, vivendo momentos incríveis, possuindo coisas que nem imaginávamos, estabelecendo relações plenas e recíprocas. 
Mas o fato é que tem gente que não aprende. Não aprende nunca, por mais que se machuque e se estrepe com isso.
Tem gente que não enxerga que as coisas vem na hora exata e que certas coisas são apenas conseqüência daquilo que plantamos durante longo período na vida. E sai por aí invertendo valores. Venho observando algumas pessoas que conheço e que ultimamente tenho tido a felicidade de não precisar conviver. E acho que cometem na vida militante exatamente esse erro. Forçam a barra e invertem os valores. 
Deixaram de ter a noção de que qualquer benefício que venha por parte da militância política é um extra, um bônus que não devemos esperar. Militar, construir a luta política é antes de mais nada, paixão. Não devemos ser militantes para ganhar algo com isso. Antes de ser status ou qualquer tipo de glamour, liderar é servir. É entregar-se sem esperar nada em troca além da transformação da realidade coletiva.
É claro que outras portas podem se abrir, seu talento pode ser reconhecido em algum momento. Portas profissionais podem se abrir, você pode ter convites de trabalho que te tragam benefícios lícitos e justos.
Mas não se faz militância ou luta política por isso. 
E quanto mais a vaidade está à frente daquilo que realmente importa, menos se poderá provar dos bônus. Porque os proezas da vida procuram os despretenciosos, os que fazem sem querer nada em troca, os de coração leve.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Sobre as coisas que eu não quero...


Ontem conversando com uma pessoa muito querida, sobre outra bem mais jovem que também tenho grande apego, a primeira falou: "nossa, está dando tudo certo pra ela, só está faltando encontrar alguém... o que logo logo acontecerá."Fiquei pensando nisso, e em como essas coisas são socialmente fortes.
Durante quase quatorze anos estive namorando ou me relacionando de forma mais ou menos séria com alguém. E faz oito meses que pela primeira vez na vida, que não, não tenho vivido nenhuma história romântica com ninguém. E estes meses foram tempos de profundas mudanças e reflexões na minha vida. Especialmente os últimos dois, quando passei a olhar para essa condição com olhos realmente felizes. O fato é que nunca me senti tão bem.
Vivi alguns romances e não estou negando a importância deles na minha vida, ao contrário. Passei por momentos maravilhosos ao lado de grandes homens com os quais eu me relacionei, e acho até que eles fazem parte da minha história e muitas coisas que sei, aprendi me relacionando. Contudo, ando descobrindo, concluindo, avaliando, que, ao contrário do que todo mundo diz, relacionar-se não é uma regra para estar bem, para estar alegre, para estar feliz.
Alguns dirão que esse minha fala serve apenas para um determinado momento da vida, que envelhecer sozinho é muito complicado. Até concordo. Mas a verdade é que a vida não é linear. Que não há uma obrigatoriedade em crescer, apaixonar-se, casar-se, procriar, envelhecer juntinho e morrer. A verdade é que há "mil e uma formas de preparar Neston", e que esses modelos sociais de comportamento só servem mesmo pra gente se frustrar quando não está no padrão, ou mesmo quando resolve estar nele a qualquer preço.
Outra verdade é que sempre que eu estive em um "relacionamento sério"e as coisas começavam a caminhar rumo as linearidades casadoiras, uma parte de mim achava lindo, ficava viajando no vestido de noiva e numa lua-de-mel em Paris, mas outra parte de mim queria sair correndo viver a vida loucamente, viajar pelo mundo com uma mochila nas costas, curtindo a minha solidão que volta e meia é a única companhia que eu quero.
Enfim, não estou dizendo que não posso e não vou viver outros romances daqui pra frente, não estou dizendo que não desejo me apaixonar de novo e talvez até me casar um dia. Contudo, não quero isso de qualquer maneira, a qualquer preço, cedendo às convenções sociais que faz infeliz a grande maioria da população. O fato é que acho uma grande porcaria as relações que estão estabelecidas em volta de um monte de hipocrisias e moralismos, que ou nos obrigam a oprimir alguém ou ser oprimidos pelo outro.
Considero doentio o fato de as pessoas olharem pra mim com quase trinta anos e me dizerem que meu relógio biológico está chegando perto do limite para ter filhos e que preciso me apressar, como se isso fizesse de mim uma pessoa infeliz. Acho simplesmente horrendo que a maior parte das mulheres tenha como central em suas vidas a questão do relacionamento romântico, enquanto o mundo é tão grande e há tantas maneiras de se realizar enquanto ser humano. 
O fato é que nunca me senti tão bem... tão completa a partir de meus próprios recursos. Em matéria profissional, política, física, espiritual, afetiva, sinto-me inteira como nunca. Cada vez menos picuinhas fazem parte da minha vida, e já não tenho paciência para os sensos comuns.
E no alto dos meus 28 anos, depois de muitas reflexões, paixões, romances, obrigações, histórias de sorrisos e choros, eu descobri o prazer e a importância da minha própria companhia, e eu posso até não saber exatamente o que eu quero, mas tenho a mais pura certeza do que eu não quero. 

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Imaginação


O primeiro era flamengo,
O segundo vascaíno,
E numa mesa banal,
De um boteco paulistano,
Nada fora mais bonito.

Enquanto a chama 
Do cigarro consumia,
Ela fitava aquela cena,
Onde eles diziam coisas
Sobre as quais ela entendia.

E mesmo ainda 
Não sendo carnaval,
Sua imaginação ardia,
E fazia... e fazia...
Um enorme festival.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Eternidade


É agora e ainda não.
A morte inaugura a eternidade,
Encerrando sua verdade,
Referindo uma paixão.
Então como ser...
Como se pode conhecer em parte?
Como se pode saber...
Até onde sou eu pensando, até onde é Você?
Como discernir minhas alucinações
De tuas diversas vozes.
Como ouvir Tua mensagem
Em meio tantas falas atrozes,
Que insanas se referem a ti?
Acho que o teu falar está
Na esperança dos aflitos,
Na poesia, na leveza dos errantes,
No levantar contra a opressão.
Justamente nos delírios,
No grito alucinante,
Na beleza dos lírios.
Na loucura de Tua razão.
És essa estranha eternidade,
Que mesmo eterno, é novidade,
Sendo três é unidade,
Tu és o agora e o ainda não.