quarta-feira, 26 de junho de 2013

E sorria...


Ela era capaz de explicar muitas coisas... sempre gostara de elucubrações infinitas. Fosse em seus assuntos cotidianos ou ainda nos temas relacionados aos corações de outrem. Ela de boca e olhos falantes, quase sempre conseguia escutar e entender os silêncios também. Aos poucos, depois de muito articular palavras, aprendera que por vezes o calar poderia ser mais gritante do que quaisquer gritos. Uma vida intensa... uma percepção deveras imensa. Estudos minuciosos de personalidades alheias... observações sem fim. Mas de repente (nas palavras do poeta... "não mais que de repente"), perdeu-se. Pois  desta vez não. Não sabia descrever. Seus olhos calaram diante do que lhe parecia inexplicável. E sua boca só fazia... disparar disparates. Ela não podia entender aqueles olhos caídos, não podia interpretar aqueles gestos, as vezes secos, as vezes mistério. Não encontrava nexo. Contudo... apesar de um incomodo sem fim transpor a totalidade do seu ser, havia um gosto. Um prazer na surpresa. Uma deliciosa sensação de admiração verdadeira ao semi-desconhecido. Sentia-se autêntica, viva, plena, plenamente surpreendida. Uma estranha felicidade. Talvez ele fosse um mistério que ela jamais desvendaria. Mas não havia nada a perder... o presente já lhe havia sido dado pela vida... a alegria de perder-se a trazia mais perto de si mesma. E sorria...

domingo, 16 de junho de 2013

Plenitude


Que elas venham e com elas tragam tudo o que quiserem. Eu me entrego, pois quando mais rápido vierem, mais breve se irão. Que elas venham quando cada uma das músicas tocar, quando cada fotografia for revista, quando cada lembrança pular na memória. Que venham todas, que se entrelacem com a minha história. Não só as dores pelas últimas seis estações. Que venham por uma década inteira... que sangrem, que se relembre cada entrega. E que pareça que todos os amores vividos, sejam apenas um. E que da mesma forma com que eles vieram, emendados, costurados, diferentes e semelhantes como fossem uma colcha de retalhos... que assim eles partam, como algo único que se vai de dentro de mim. E quando elas se esgotarem, as dores... quando todas as músicas já tiverem sido tocadas, quando todas as danças prometidas já não puderem mais ser dançadas, quando todos os sonhos estiverem absolutamente desacreditados, quando todas as expectativas estiverem quebradas, quando as declarações de amor nunca mais puderem ser declaradas, quando não houver mais nenhum tema a ser debatido... quando tudo for definido, quando não restar vestígios. Então existirá tudo, por não haver mais nada!

Desorganização


Passei um bom tempo sem escrever, ou escrevendo muito pouco. Sinto que venho retomando isso, e acho que é um bom sinal. Pois escrever me ajuda na organização da alma. Que aliás anda muito, muito desorganizada. Mas como já dizia a música "é desorganizando que eu posso me organizar...". E é exatamente isso que sinto que está acontecendo. 
São tantas sensações e sentimentos misturados dentro de mim que não ando conseguindo observá-los direito. Sabe quando seu quarto chega em um estado de desorganização tão grande que você nem sabe mais por onde começar a colocar as coisas no lugar...? Pois é, até que você começa e depois não para mais. 
Não sou alguém que fica parada na tristeza ou em qualquer outro sentimento negativo. Sou aberta pra vida e dificilmente me canso de investir nas pessoas. Mas neste exato momento, acho que preciso parar. Preciso de um certo espaço de tempo pra voltar a ver as coisas com nitidez. As vezes tenho a impressão que muitas coisas das quais vivi nos últimos anos passaram muito mais pela artificialidade do que pela realidade mesmo. 
E talvez, se eu não parar, não aprofundar essa reflexão e elaboração subjetiva, vou sempre estar no mesmo lugar, ainda que as pessoas sejam outras. Desapegar-se de alguém que foi importante em nossa vida exige luto. É semelhante a uma morte, talvez pior, porque você sabe que ele está vivo. O outro mecanismo para superar isso, é a substituição imediata. Que não é uma forma psiquicamente saudável. 
Por isso, eu digo, as vezes as pessoas que estão em volta da gente podem ser outras, mas nós estamos no mesmo lugar.
E eu não quero mais isso. Quero, por pelo menos uma vez, ir até o fim nisso tudo. Quero ter que começar do zero. Quero ter que, aos poucos, destruir cada um dos vestígios dele (e dos que vieram antes também) que restaram dentro e fora de mim, mas que fizeram parte dos cenários da minha vida. Até que eu possa desintoxicar de todo passado, e aí sim seguir em frente. 

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Negligência


É comum vermos pessoas paradas no passado. Gente que já fez algo grande em um momento e depois nunca mais realizou algo bacana, então fica presa lá atrás. Ou ainda, pessoas que param em traumas, em desamores, em baques que também deveriam ter sido superados. E isso, estar preso ao que já passou, é uma prisão e uma inversão de valores.
Contudo, há um outro tipo de atitude, semelhante a está, fantasiada de algo bom. Mas que não é. Há pessoas paradas no futuro. Planejam tanto, acumulam, guardam, economizam em recursos objetivos e subjetivos, para usá-los no futuro. É claro que uma dose disso é algo bom... um pouco de planejamento, de economia é importante. Mas há quem guarde tudo para amanhã. 
Estes se esquecem que nem o que foi, nem o que será, existe mesmo. E uma vez que negligenciamos o presente, não faz sentido cuidar do futuro. A vida, na verdade, é somente o exato instante que se tem agora. É o amor que você sente e demonstra agora, é o cuidado que você oferece aos seus agora, é a compaixão com o próximo que você tem hoje. 
Vejo gente tentando ter um futuro lindo, com um presente precário, negligente. Vejo gente deixando o amor pra amanhã e colocando no lugar tanta coisa menor. É pena... mal sabem que a vida é tão rara, tão cara e acontece ou desaparece em um único instante!

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Barreiras


Ausências me invadem e se alojam em mim,
Preenchendo noites vazias, com vazios em si.
 
As palavras esfriam o que o meu coração aquece,
Deixando deste lado do mundo uma tristeza sem fim.

Enquanto isso, aqui dentro, surgem barreiras maiores 
Que a Muralha da China ou que o Muro de Berlim. 

Arya


O último episódio de Game of Thrones foi chocante. Amigos que leram o livro ficaram quinze dias anunciando que seria bombástico. "O casamento Vermelho". Eu não me aguentei, digitei "casamento vermelho"no google, e descobri antecipadamente o que iria acontecer por alto. Morte atrás de morte de personagens que já havíamos nos afeiçoado. 
Mas o que mais me tocou em todo o episódio não foi exatamente a morte de alguns personagens. Mas a situação de Arya Stark. Ela, uma criança, que estava sendo levada para encontrar sua mãe e irmão, que não via há muito tempo, desde antes do seu pai ter sido assassinado diante de seus olhos, acusado de traição. 
E quando chegou ao local onde os reencontraria, e estava prestes a ter sua segurança restabelecida sob a proteção dos que a amavam... percebeu que também haviam sido assassinados. 
Acho que em muitos momentos da vida, nos sentimos como Arya. Chegamos tão perto daquilo que mais amamos, de momentos em que resolveremos algumas de nossas lacunas abertas, que curaremos feridas. Mas instantes antes, o cenário muda e tudo escorre pelas nossas mãos. E aí, ou morremos ou nos reinventamos. Restando-nos, de forma figurativa, dizer ao deus da morte: "hoje não."