segunda-feira, 4 de março de 2013

CULPA


A culpa é um tema que costuma habitar minhas reflexões. Na verdade muitos comportamentos humanos giram em torno da culpa. Seja por tê-la, ou pela tentativa de gerá-la no coração alheio. Talvez a imensa maioria da pessoas já teve a oportunidade de estar em um ou outro pólo destas situações descritas. Seja se vitimizando para causar culpa no outro, seja se sentindo um grande vilão.
Até certo ponto, tais movimentos fazem parte do cotidiano da vida... pois o sentimento de remorso em níveis baixos, indica certo grau de sanidade e sensibilidade para com as dores do outro. O problema é que no geral, boa parte das relações estão sedimentadas nestas bases. Pessoas internalizam culpa por fazer coisas absolutamente saudáveis e libertadoras. Homens e mulheres se sentem culpados por por terem mais sucesso que seu cônjuge na vida profissional, por terem amizades com pessoas do sexo oposto, por desejaram uma vida social mais ampla do que a vida doméstica. Filhos se sentem culpados por não atenderem as expectativas desleais de seus pais, pais se sentem culpados pelos fracassos de seus filhos. Pessoas sentem culpa por destoarem dos modelos mais tradicionais de comportamento.
Penso que a culpa, da maneira com que nossa sociedade a impõe nas relações íntimas, é o instrumento mais opressivo que já fora inventado. A questão mais tratada nos consultório de psicólogos e psiquiatras  é a culpa, e estes profissionais começam justamente pela tarefa de desconstruí-la e evidenciar para seus pacientes que seus comportamentos não são moralmente condenáveis. A culpa no geral é internalizada de maneira inconsciente pelas pessoas. E o indivíduo ao não conseguir lidar com esse sentimento, inicia um processo de sabotagem em diversas áreas de sua vida. Esse é o mecanismo que faz com que mulheres violentadas não queiram denunciar estupradores, por exemplo. Por que de alguma maneira acreditam que foram elas que provocaram a violência. 
A culpa é capaz de destruir a sanidade de milhões de homens e mulheres, sem falar no papel que a religião cumpri para sedimentar esse sentimento na vida das pessoas. Acho que é necessário identificarmos como a culpa nos corrói por dentro e desconstruirmos os seus efeitos. Mas não é fácil... pois a culpa é um dos elementos mais perversos e acentuados de nossa cultura.

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