quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Crente

       
      Há um tempo atrás ser crente era motivo de bulling. Essa turma era considerada muito careta, com padrões morais os mais rígidos possíveis. Mas isso vem mudando muito. Primeiro mudaram o termo, crentes passaram a ser chamados de evangélicos e com a chegada das igrejas neopentecostais, houve uma popularização total dessa religião. 
      Uma religiosidade que antes era baseada numa vivência espiritual mais profunda e constante, que marcava a identidade das pessoas fortemente, um modo de vida... que nem sempre ou quase nunca era confortável. Hoje em dia, com a disseminação da teologia da prosperidade, as igrejas evangélicas atraem milhões de fiéis e penso que logo logo essa será a religião oficial da classe C e D. Não é mais motivo de bulling ser evangélico nas camadas populares, ao contrário, mesmo quem pratica outra religião, passou a dar alguma moral para a igrejinha evangélica na esquina de casa, que antigamente era um gueto de senhoras muito reprimidas que usavam saias cumpridas e cabelos sem corte. 
     Acho tudo isso muito estranho. Sou crente, de uma denominação não fundamentalista e não pentecostal, de linha calvinista, que está muito distante da teologia da prosperidade. Na verdade, acho que de maneira até anacrônica, meu modo de pensar está muito mais próximo é da teologia da libertação. E na minha infância, na escola, ser crente, era ser minoria. E nunca imaginei que eu iria viver pra ver essa proliferação de evangélicos. Aposto que nas escolas públicas de hoje as crianças crentes devem se sentir maioria. 
     Contudo, acho que essa popularização da religião protestante não se deu de maneira muito saudável... inúmeras vezes observo coisas absurdas quando passo pelos programas evangélicos na TV. Fico chocada com as interpretações bíblicas que em minha visão são extremamente equivocadas e simplórias e com a maneira fisiológica com que se lida com a crença.  Transformando algo que anteriormente tinha como base relacionamento, entendimento do significado do amor incondicional de Deus a partir da compreensão de uma metáfora profunda representada pelo sacrifício da Cruz, libertação de qualquer processo de culpa, devido ao fato de o sacrifício já ter sido realizado por Cristo e vivência constante, em ritual simplório de troca, culpa e sacrifício humano. Acho que se eu tivesse um humor um pouquinho mais ácido, me ofenderia com o modo que esses pastores muito loucos ignoram a Palavra.
        Isso é um lado da moeda... mas de outro, acho que essa releitura do protestantismo cabe como uma luva no Brasil de hoje. E de uma maneira peculiar, acaba por ajudar as pessoas. Ouço histórias de gente que realmente conseguiu organizar a vida a partir da teologia da prosperidade. Pois estava num estado de calamidade tamanha, que só o fato de ter uma religião para seguir, ajudou. Muitas vezes a religião funciona como uma teoria de organização da vida. Que neste caso, é muito pouco complexa, claro, mas num país no qual a grande maioria das pessoas é muito pouco complexa, principalmente em se tratando da área espiritual, essa filosofia tende a funcionar. 
           

2 comentários:

  1. Este tipo de coisa também me intriga muito amanda, a orientação neo-pentecostal também me manifesta fortemente no catolicismo, mas com o passar do tempo também acaba sendo alvo da Igreja de Roma por ser liberal de mais, vemos então a escalada do conservadorismo (na minha opinião) irracional da TFP e da Opus Dei, que se preocupão mais com a forma do que com o conteúdo do Eavangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo ...

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  2. Me desculpe pelos erros de ortografia, rs rs rs rs ...

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