domingo, 30 de setembro de 2012

Fora dos Contornos


Fico pensando o quão triste é a história de muitos casais que se conhecem, se apaixonam na juventude, vivem um amor, se casam e um belo dia a relação esfria e quando vêem, parecem dois desconhecidos. Fico imaginando quantas relações são exatos retratos desta imagem... um dia desses, vi um filme no qual havia um diálogo em que uma das pessoas dizia que não importava o quanto uma mulher fosse linda, que o cara que transava com ela todos os dias, com certeza enjoaria... me pareceu algo muito triste. Mas acho isso muito real. E penso que realmente acontece todos dias. 
Contudo, não é por acaso. O que percebo é que as pessoas possuem posturas diferentes em diversas áreas da vida. No geral, no que diz respeito a carreira profissional, ao estudo, a maioria das pessoas tem um sentido evolutivo grande e aplicam toda a sua complexidade nestas questões. Elaboram planos de crescimento, caminhos através dos quais poderão ir mais longe, tentam fugir da linearidade imposta. Já na cama, nas suas vidas sexuais, isso não acontece. Mesmo pessoas complexas em outras áreas, muitas vezes são completamente medíocres na sexualidade. Seguem um esquema simplista que logo tende a se esgotar na rotina da vida.
Há muitos sites que falam sobre sexo em relacionamentos estáveis, que dão diversas dicas de como esquentar uma relação... penso que até são válidos. Mas no geral também são medíocres. Mulheres e homens deste mundo tem uma educação sexual extremamente limitada e distante uma da outra. Mulheres, quando aprendem alguma coisa sobre sexo antes de começarem a ter relações, é sob uma perspectiva cafona e precariamente romantizada e muitas vezes fortemente repressiva. Homens aprendem  o sexo a partir de filmes pornográficos, cujas relações são mecanizadas e falocêntricas. Ambos os aprendizados são equivocados... e pior, extremamente controversos. 
Enquanto essa educação (ou a falta dela) acontece, pessoas inteligentes, capazes de fazer diferente criam bloqueios muitas vezes a partir de crenças irracionais que carregam em suas vidas. E a sexualidade, o tabu universal, fica sem elaboração alguma. Ou então se reduzem a criar fantasias, personagens ou relações de absoluta submissão.
Penso que sexo é extensão de tudo o mais que somos na vida... se levamos uma vida cheia de sonhos, poesia, romance... isso pode e deve ser traduzido na cama. Também nossa capacidade técnica, objetiva, direta, pode estar lá... para que sejamos alegres sem motivo... para que quem nos veja andando na rua, saiba que amamos e somos amados. Vale é fugir de quaisquer tipos de contornos. E entender que cada relação é uma... perceber que sexo não é de um... que não há quem seja "bom de cama" sozinho... o que existe mesmo, são duas pessoas que descobrem sensações, prazeres, brincadeiras, velhos e novos desejos juntos. 
É importante que nunca, jamais, percamos o sentido de evolução e complexidade também no sexo, como sendo uma extensão daquilo que queremos para nós mesmos em todas as áreas da vida e aquilo que sonhamos para o mundo... mais cores, mais beleza, mais harmonia, mais densidade.
A sexualidade é um universo infinito, no qual sempre haverá o que descobrir. Que a nota média fique para os medíocres... que o politicamente correto seja para os que não vão além... e que as linhas retas, os esquemas prontos sejam daqueles que são incapazes de viver a liberdade... e isso não é pra mim... não é pra nós dois. Obrigada pelo fim de semana com as tintas fora dos contornos.

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