sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Justo ou simplório?


"Bontche, o silencioso. Um homem simples levava uma vida sem maiores ambições, fazendo o seu trabalho de limpeza das ruas. Humilde e sem filhos, nunca se envolveu em disputas e, ao morrer, foi enterrado como indigente, nem sequer uma lápide lhe foi ofertada. Nos céus, porém, houve um enorme alvoroço quando da sua chegada. Nunca haviam recebido lá alma tão ilustre, e todos acorreram ao Tribunal Celeste para receber aquela figura tão pura.
O próprio Criador fez questão de oficiar o julgamento, enquanto o Promotor Celeste se contorcia de ódio pela causa que percebera perdida. Bontche foi trazido diante dos anjos, do Criador e do Promotor, que foi logo desistindo de fazer qualquer acusação. O Criador então tomou a palavra e, elogiando Bontche, lhe disse: "Tão maravilhoso foste em tua vida que tudo aqui nos céus é teu. Basta que peças e terás de tudo. Vamos, o que queres, alma pura?" Bontche olhou com desconfiança e, tirando o chapéu, disse: "Tudo?" "Tudo!", respondeu o Criador, ainda que ciente da ousadia de tal oferta. "Então... eu queria um café com leite e um pãozinho com manteiga." Quando disse isso, a decepção tomou conta dos céus. O Criador sentiu-se constrangido, e o Promotor não conteve a risada. Bontche não era um justo - era um simplório."
História de I.L.Peretz, no livro A Cabala do Dinheiro de Nilton Bonder.

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