sexta-feira, 22 de junho de 2012

A nova face das novelas brasileiras


Gosto muito das novelas brasileiras. Gosto tanto que gosto até das ruins. Sempre que dá um tempo, dou uma olhadinha, e devido a prática, rapidamente me ambiento e pego amor aos personagens. Acho que as novelas refletem muito os sentimentos coletivos que estão vigentes em determinados momentos do país. Sei que muitas vezes também podem ser alienantes e imprimir ideologismos que na minha opinião não são bem vindos. Mas faço o filtro e me divirto.
Assisto novela porque acho relaxante. Não é como filme cult que a gente precisa pensar, que mexe profundamente com a gente e aí tem que ficar digerindo. As vezes não quero pensar, quero apenas vegetar em frente a TV e embarcar num universo lúdico, leve e diferente da minha realidade.
Mas o fato é que ultimamente venho me divertindo mais do que já me divirto assistindo as novelas. Penso que devido a reorganização social do Brasil, o povo passou a ter mais auto-estima, e percebeu que ser trabalhador, morar na periferia e cultivar valores que coloquem em primeiro plano as questões coletivas não é vergonha pra ninguém, e sim um orgulho imenso.
É por causa dessa nova auto-estima do brasileiro, essa identidade positiva quanto a ser povo que tem surgido uma nova roupagem para a dramaturgia no Brasil. Antes, nas famosas novelas ultra-românticas de Manoel Carlos, mostrar a vida do rico era o que dava ibope, as mocinhas eram sempre umas desocupadas, lindas e maravilhosas, ou tinham um emprego apenas para constar, verdadeiras dondocas... quem trabalhava de verdade eram apenas os homens, e os protagonistas sempre em profissões consideradas da elite. Essas eram as novelas que mais davam ibope... pobre não queria ver pobre... queria assistir e sonhar com a vida do rico.
Mas as novelas que estão passando agora, principalmente as das sete e das nove mostram como protagonistas trabalhadores e trabalhadoras. Na das sete, Cheias de Charme, as grandes mocinhas são três empregadas domésticas, lindas e talentosas, que sofrem na pele todos os dias a dureza de serem domésticas. Claro, que há muitas licenças poéticas aí... empregada que usa maquiagem da MAC não é assim algo real. Mas o fato é que as vilãs são as patroas que não respeitam as leis trabalhistas e só exploram as meninas. O principal ambiente em que a novela se passa é a periferia e tem até personagem que é artista grafiteiro e socialista... acho a novela um charme, e pelas notícias que leio quanto a aceitação, a Globo voltou a ter ibope, porque diferente de antes, agora o povo, com sua auto-estima alta quer ver é sua própria vida relatada na TV.
A novela das nove, também traz esse mesmo cenário... é uma novela mais séria e que envolve mais drama. Contudo o ambiente também é a periferia, e vários elementos da vida cotidiana do povão estão lá. Tem a periguete, vivida pela ótima atriz Issis Valverde, que no fundo é uma feminista orgânica e que afirma ser livre porque faz com seu corpo o que quer... tem os bailes funk´s... a família que era pobre do jogador de futebol que ficou rica, mas ao invés de se mudar para um bairro luxuoso, fez é uma mansão na periferia mesmo e continuou investindo na comunidade. Tem até ambiente de lixão sendo mostrado. E dona de salão é relatada como grande empresária. Os diálogos, as brigas, as paixões, tudo está diferente. Até crente anda sendo relatado com menos preconceito devido a expansão do pentecostalismo no Brasil.
Portanto, o que já era divertido, anda muito mais, e eu que adoro um romance de novela, chego a rir sozinha desta nova face relatada nas telinhas.

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