quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Culpa!




Passo boa parte do meu tempo, mesmo quando fazendo outras coisas, digerindo o que vejo e escuto aí fora. E, ultimamente, isso tem sido um processo intenso. Meu metabolismo afetivo está a mil por hora. Nunca processei tão rápido e de forma tão profunda aquilo que entra em mim. E melhor ainda, estou aprendendo a perceber o que deve ficar na minha alma (nutrientes e vitaminas subjetivas) e o que deve ser excretado, colocado pra fora antes que vire toxina e me faça mal... e muita coisa é alimento inútil ou até mesmo prejudicial... acho que quando chegamos a estados de tristeza profunda, significa que estamos tendo uma intoxicação alimentar da alma e do espírito, e assim como uma intoxicação alimentar física, isso pode levar até a própria morte... se não, não haveria tanta gente que se mata por causa de depressão!!!
Afirmo aqui que a parte da depressão, não é autobiográfico, é apenas uma reflexão. Mas continuando, penso que algumas coisas que chegam até nós no campo subjetivo devem ser processadas e jogadas fora... fundamentalmente aquilo que nos gera culpa, quase sempre sem necessidade.
E a forma de digerir isso é entender que a culpa só se instala em nós quando permitimos, não estou falando de uma consciência do erro, isso é importante ter, estou falando de uma culpa que nos corrói e acaba por destruir.
Quando agimos de uma determinada maneira, e não temos convicção real de que aquilo é o certo, então aí, damos brecha para a culpa, pois abrimos em nosso sistema, uma lacuna, que caso alguém nos acuse, então aí nós mesmos já nos declaramos culpados. E como toda culpa gera, na nossa estrutura subjetiva, uma punição, então permitimos que o outro nos puna, ou nós mesmos, acabamos por nos punir.
Talvez não tenha ficado tão claro, então, para explicar melhor o pensamento, vou inverter a lógica, imagine só, quando agimos de uma maneira determinada por absoluta convicção, mesmo que haja outras pessoas que descordem daquilo que estamos fazendo, mas sabemos que aquela forma de proceder é o certo... isto é, há uma estruturação plena de determinada ação dentro de nós que é igual a "convicção"... portanto, se agimos assim, de acordo com aquilo que acreditamos, e alguém vem e nos acusa de estar agindo de maneira errada... o que gera dentro de nós não é culpa, e sim, indignação, vontade de lutar por aquilo que acreditamos e seguirmos em frente.
O melhor e mais simples para a nossa sanidade afetiva, seria agirmos somente de acordo com aquilo que está bem estruturado dentro de nós, isso é, agirmos de acordo com aquilo que realmente acreditamos. Mas o fato é que isso não acontece... volta e meia, fazemos coisas que destoam do que estruturamos internamente... e isso pode ocorrer em diversos níveis... o mais evidente e socialmente relevante é o descumprimento da lei, pois temos os princípios gerais do ordenamento jurídico internalizados em nós, e quando descumprimos, há algum tipo de punição. Outro exemplo é o pecado, que para o cristianismo, nada mais é do que o descumprimento de uma conduta moral determinada... mas há sem dúvida, um código moral interno... partindo das várias colunas que compõe a nossa formação... que em muitas pessoas, pode até coincidir com exatamente aquilo que determina a lei, ou mesmo outro código moral, como o que as religiões desenvolvem. Mas creio que no geral, temos um código moral interno particular, que articula vários elementos, externos, mas também internos, pois, coloca na roda as nossas próprias experiências... e na verdade é este último que me interessa.
Esse código moral interno que desenvolvemos é que pode nos gerar uma culpa equivocada que nos corrói por dentro. E isso é bem negativo. Pois se partimos da premissa de que, devido a nossa formação social, temos internalizado que toda culpa gera uma punição (não sou eu que digo isso, mas sim o Freud), então se contrariamos nosso código interno, iremos, nós mesmos nos punir.
E é devido a isso, a auto-punição, que tanta gente se sabota por aí... se mete em uma situação óbvia de infelicidade, faz com que seu próprio sucesso seja impedido... isso em matéria de relacionamentos e afetividade é bem evidente...as vezes as pessoas se metem em relacionamentos absolutamente precários por que fizeram algo anteriormente que lhes gerou culpa, portanto se punem, proporcionando a si mesmos a infelicidade.
A verdade é que a culpa, e como resultado dela a auto-punição, podem destruir um futuro feliz, podem destruir a própria vida de um ser humano.
Penso que o maior desafio que temos, é justamente combater que esse processo se complete em nossas vidas... claro que falo aqui do campo subjetivo, e não do campo jurídico que dei como exemplo anteriormente.
Mas a pergunta é...como evitamos isso, a culpa, a auto-punição, a auto-sabotagem?
Não tenho essa resposta por completo, mas penso que o primeiro passo é saber que isso ocorre conosco... tentar enxergar que estamos culpados porque descumprimos nosso código moral... e depois, penso que é importante também, refletir sobre este código, quanto mais rígido ele for, mais tradicional, mais intolerante, mais sofreremos e nos auto-puniremos, é preciso pensar bem, estruturar bem aquilo que queremos ser, mas entender que a vida não é linear e que devemos ter diretrizes de como agir sim...porque isso significa ter caráter... mas quando fugimos ou deslizamos, é preciso aprender as vezes a relativizar, reestruturar nossos conceitos e quando não for possível, é preciso que aprendamos a perdoar a nós mesmos... às vezes mais do que perdoar aos outros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário